domingo, 24 de junho de 2007


Nine Inch Nails - Year Zero (2007)
Parte 1 - O lançamento
Um artista como Trent Reznor não teria dificuldades em lançar um disco. Com um número imenso de seguidores, a sua banda, Nine Inch Nails, pode fazer o que quiser. Nunca faltará fãs para consumir a música da banda. Mas Reznor não gosta de facilidades. A dificuldade em encontrar inteligência na música pesada dos dias de hoje levou o artista a demonstrar que a arte pode ir muito além das letras e dos acordes de uma canção. Para "Year Zero", o vocalista do Nine Inch Nails queria mais do que um disco. Queria uma experiência completa.Para tanto, Reznor realizou uma ação pensada e executada de maneira impressionante pela 42 Entertainment. Trata-se de um jogo de realidade alternativa, o ARG (Alternative Reality Game), que inclui uma rede de sites, muito mistério e pistas e mínimos detalhes espalhados por diversas partes do mundo - o real. A estratégia levou fãs de todo o planeta a acompanhar uma corrida que envolvia uma série de eventos, misturando música, internet, política, teorias de conspiração e muita, mas muita criatividade.A ação começou da forma mais simples possível: com uma camiseta em um show do Nine Inch Nails, no dia 12 de fevereiro deste ano. Alguns fãs descobriram que a nova camiseta da turnê continha letras destacadas que, juntas, formavam a frase: "I am trying to believe." Não demorou para que alguém tivesse a brilhante idéia de digitar iamtryingtobelieve.com em algum navegador de internet. No endereço, um site misterioso que discutia os efeitos de uma droga revolucionária chamada Parepin. E daí tudo começou: vários outros sites apareceram na esteira deste, todos descrevendo um futuro sombrio apenas 15 anos à frente ou eventos que aconteceram no ano 0000, seguindo a temática de "Year Zero".Dias depois, uma sucessão de acontecimentos levou os fãs ainda mais para dentro do jogo. Vários pendrives contendo arquivos foram encontrados dentro de banheiros de shows do NIN. Primeiro em Lisboa, depois em Madri, e em seguida em Barcelona. O conteúdo dos pendrives eram arquivos de mp3 com músicas inéditas até a época e mistérios como ruídos de estática que, depois de analisados através de um espectrograma, revelaram-se como imagens: um trazia a imagem semelhante a um braço se estendendo do céu, logo denominada "The Presence" (mais tarde, conheceríamos ela como a capa do disco) e outro com um número de telefone que, ao ligar, era possível escutar uma conversa de telefone captada clandestinamente. Depois disso, outra camiseta da turnê apareceu com letras em negrito que formavam outro número de telefoneonde era possível escutar um trecho da música "Survivalism".O passo seguinte era revelar a imagem da capa de "Year Zero". Para isso, a estratégia utilizada foi incluir um teaser-trailer no site do disco. O vídeo trazia imagens desconexas e pequenas pistas, como um frame contendo a URL yearzero.nin.com/0024, domínio que trazia uma imagem nomeada como yearzero_cover.jpg. Dias depois, outros pendrives foram achados em Manchester. Neles se encontravam uma imagem chamada "invitation.jpg", outra do letreiro de Hollywood completamente destruído (que levava a um site que faz parte do jogo) e ainda uma música inédita, "In This Twilight".Enquanto isso, o disco ia se revelando devagar. No dia 3 de março, a música "The Beginning Of The End" foi veiculada de madruigada na rádio KROQ, sem avisos prévios. Em seguida, ela já era facilmente encontrada na internet em MP3 de alta qualidade. No dia 7 do mesmo mês, um outro pendrive "perdido" em um show trazia o clipe da música "Survivalism", que além de tudo também trazia diversos frames que exibiam mensagens criptografadas. "Yera Zero" ia dando as caras com o que realmente importava desde o começo: suas músicas. Ao mesmo tempo, a história ficcional envolvendo os Estados Unidos, grupos terroristas, ataques biológicos, governos ditadores, milícias xiitas, etc, ia sendo contada em sites e blogs, para quem quisesse acompanhar.No dia 4 de abril, o disco inteiro foi disponibilizado no site oficial para audição via streaming. Algumas faixas traziam mensagens cifradas que levavam a outros sites. A inventividade dos caras era infindável. As mensagens apareciam em código morse ou combinanndo os canais estéreos direito e esquerdo em um único mono, para que se ouvisse uma voz computadorizada que indicava mais um site parte do todo. Em um destes sites foi marcada uma reunião chamada "Art is Resistance", em Los Angeles. Os participantes eram convocados a vestir algo para mostrar que faziam parte do movimento. O kit da reunião continha buttons, posters, stencils, bandanas e cerca de 25 cases com telefones celulares pré-pagos, nos quais os participantes recebiam ligações com mais pistas. A loucura não tinha limites.Do dia 13 ao dia 25 de abril, o álbum "Year Zero" foi lançado na Europa, Austrália, Reino Unido, Estados Unidos e Japão. Mas os impactos do seu lançamento continuavam. O disco saiu em embalagem digipack trazendo um adesivo com o número 1-866-445-6580, e o CD em si tinha uma de suas faces termocromáticas, que quando aquecida ao ser tocado revelava uma seqüência binária indicando diversos endereços de sites.Finalmente, no dia 27 de abril, os "membros" da "Art is Resistance" receberam ligações automáticas via celular com uma mensagem que indicava a Hour of Arrival (hora da chegada). A ligação marcou o fim do jogo, dizendo "we've got to go dark for a while, but that is ok - you don't need us anymore.""Year Zero" estava lançado. E dentro de um universo completamente diferente do que estamos acostumados a ver. Uma jogada de marketing, que Trent Reznor prefere encarar mesmo como arte. Segundo o dono do Nine Inch Nails, o lançamento todo é mais do que uma mera brincadeira para fazer as pessoas comprarem um disco, é uma experiência para os fãs, uma verdadeira forma de arte. Ao final de toda essa envolvente maratona, não temos dúvidas disso.
Parte 2 - O Álbum
1 - HYPERPOWER!
2 - The Beginning of the End
3 - Survivalism
4 - The Good Soldier
5 - Vessel
6 - Me, I1m not
7 - Capital G
8 - My Violent Heart
9 - The Warning
10 - God Given
11 - Meet Your Master
12 - The Greater Good
13 - The Great Destroyer
14 - Another Version of the Truth
15 - In this Twilight
16 - Zero Sum
Mudar sempre. Este é o lema do genial Trent Reznor, a cabeça por trás, pela frente e pelos lados do Nine Inch Nails. Espécie de dono-faz-tudo da banda, Reznor criou este ano mais um espetáculo musical. Depois do potente "With Teeth", que apesar de sua força não era o melhor que se poderia esperar do NIN, agora Reznor brinca com o fim do mundo e suas possibilidades no temático "Year Zero". O disco versa sobre a destruição do mundo em que vivemos no ano de 2022, contando com possíveis presenças alienígenas, contaminações acontecidas na luta americana contra o terror, o poder de destruição de uma droga desconhecida e o futuro obscuro e nada distante.O pré-lançamento do disco foi uma aula de marketing de Reznor. O artista utilizou diversas formas de atiçar a curiosidade dos fãs, desde a criação de camisas, sites, pendrives espalhados pelos banheiros dos shows com músicas e números de telefone que davam dicas e tocavam músicas inéditas como "Survivalism", até a criação de boatos sobre uma tal "A Presença", sabe-se lá o que seja isso. Ainda assim, Reznor não considera que tenha utilizado marketing. Para ele tudo faz parte de uma maneira mais abrangente de se fazer arte, afinal, o jogo todo está ligado até os ossos com o disco.E o álbum em si é mesmo fantástico. O rock industrial do NIN encontra-se com toda força no eletrônico e Reznor abusa de texturas, máscaras, passagens e barulhos escondidos entre letras e melodias, sempre mergulhado no incomparável estilo da banda. Todo o lado melódico do Nine Inch Nails se encontra com perfeição com as letras visionárias e todo o mundo (ir)real que o líder do grupo criou.Algumas músicas fazem uma mistura encaixadinha de peso industrial com outros instrumentos e influências. No caso de Zero-Sum, a canção se desenvolve como um míssil que se aproxima mais e mais, até chegar ao final cataclismático em que apenas um piano se deixa ouvir. Estranho e perturbador, mas bonito. In This Twilight é quase uma balada industrial, que segue uma levada apoiada na bela voz, neste momento calma, de Reznor e traz a repetição de ruídos ao longo da música toda."Year Zero", repara-se facilmente, é mais "complicado" de se ouvir do que o pop With Teeth, disco anterior do grupo. As músicas dançantes, feitas para derreter pistas, não se apresentam muito por aqui. Vessel, por exemplo, até pode ser tocado em uma pista, mas seu andamento lento, como uma máquina que se repete em passos delimitados previamente, não permite que seja das mais dançantes. Já The Beginning of the End é das que possuem levada mais balançantes, apesar da sua letra forte, anunciando a completa catarse.O NIN continua com a mira certeira, distribuindo tapas na orelha que doem e agradam. "Year Zero" parte de um tema inteligente e controverso para desenvolver canções que não perdem suas formas graciosas, ainda que tensas e arrebatadoras, melódicas e raivosas. É peso de qualidade, melodica e artisticamente falando. Ainda que mude sempre um pouco, Trent Reznor sabe mudar para melhor.
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Me senti na obrigação de postar isso, já que eu fui o "descobridor" do álbum hehehehe.
Enfim, é um álbum muito bom mesmo. Recomendo.
ouvindo: Midlake - Roscoe (essa é outra descoberta hehehe)

2 comentários:

emilio_ disse...

além do cd ser mt bom esse ARG foi mt bem pensado!!

CassiO disse...

Pois é, os caras mandaram bem, com toda certeza.